UM DESLOCAMENTO VOLUNTÁRIO
Somos chamados a seguir Jesus pela trilha descendente do ministério e a ir aonde Deus domina, ainda que esse lugar seja “um lugar onde não gostaríamos de ir”.
Chamamos esse movimento de DESLOCAMENTO VOLUNTÁRIO. O dicionário diz que deslocar é “mover-se ou mudar-se do lugar comum ou apropriado”. Assim como um navio no mar desloca a água, também somos deslocados quando algo maior que nós nos move em nova direção ou estado de ser.
O deslocamento voluntário desvenda a ilusão de que temos de chegar ao TOPO e oferece um lampejo de uma realidade espiritual mais profunda. Coloca-nos em contato com o nosso próprio sofrimento e dor, nossas próprias feridas e padecimento, nossas próprias limitações e impotência. Enquanto quisermos ser interessantes, distintos, especiais e dignos de reconhecimento especial, somos afastados da profunda percepção de que somos como os outros, que somos parte da raça humana e, em última análise, que não somos diferentes, mas iguais.
A nossa vocação pode exigir a busca de certa carreira. Pode se tornar visível em um emprego ou trabalho concreto, mas NUNCA PODE SE REDUZIR A ISSO. Não é nossa carreira, mas a nossa vocação que conta na vida espiritual. Tão logo começamos a identificar a nossa carreira como a nossa vocação, corremos o risco de acabar em “um lugar comum e apropriado”, inconscientes do fato de que as feridas que ainda temos estão nos chamando para continuar a nossa busca em conjunto com os nossos companheiros peregrinos.
Para THOMAS MERTON, deslocamento significou deixar a universidade e ir para o monastério.
Para MARTINHO LUTERO, significou deixar o monastério e tornar-se um reformador.
Para DIETRICH BONHOEFFER, significou voltar ao seu país, deixando a segurança dos Estados Unidos e tornando-se prisioneiro dos nazistas.
Para MARTIN LUTHER KING JR, significou deixar o lugar comum e apropriado dos negros e liderar um movimento pelos direitos civis.
Para MADRE TERESA, significou deixar o convento e fundar uma ordem para cuidar dos “mais pobres dos pobres” em Calcutá.
Para JEAN VANIER, significou deixar a academia para viver com os deficientes físicos e mentais em L’Arche.
Quando FRANCISCO DE ASSIS abandonou o seu lugar comum e apropriado na sociedade, rasgou suas roupas e saiu sozinho para viver em uma caverna, desnudou não apenas o seu corpo, mas também as profundas feridas do seu próprio coração. O seu deslocamento tornou-se uma testemunha da condição humana básica do sofrimento e da necessidade da graça de Deus.
É frequente que, quando alguém se desloca em nome do Reino, uma comunidade profética se forme. Às vezes isso acontece durante as suas vidas, às vezes acontece depois que morrem.
Quando o deslocamento nos coloca em contato com a nossa própria condição contundida e permite que nos tornemos presentes aos que sofrem, então a comunidade se torna o primeiro lugar onde os frutos da compaixão se fazem visíveis.
Quando estou na presença do Senhor com mãos vazias, como um servo sem serventia, conscientizo-me da minha dependência básica e da minha profunda necessidade de graça.
A oração ajuda a romper a pretensão de plenitude e auto-suficiência. convida-me a ajoelhar, fechar os olhos e estender os braços.
Em oração, ouço a VOZ DE DEUS me chamando para ir em frente. Encontro meu caminho para casa, descubro a minha vocação para cuidar e ser cuidado em comunidade.
Meu coração pela pena de um hábil escritor. Grata a Deus por esse que conseguiu traduzir em letras o meu interior!
Ariadna de Oliveira
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